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Reflexões Individuais

Reflexão individual do Carlos Serqueira

Estando a acabar a licenciatura em Ciências da Educação torna-se fundamental que tenhamos “entranhados” conceitos base necessários para o desenvolvimento profissional que futuramente nos espera e consequentemente aumentar o nosso estofo acerca, não só deste conceitos como também de concepções base da sociedade, que são a formação, o trabalho e a justiça social.

O trabalho, sendo um conceito que “vive” implicitamente em todo o nosso quotidiano, pode ter várias concepções, atendendo ao facto que é vivenciado por pessoas que são distintas, mas mesmo assim conseguimos encontrar uma clareza geral sobre este tema. Assim, trabalho pode ser definido através do facto de ser necessário implicar tanto um salário como uma execução de uma temporalidade, exigindo uma entrega e um compromisso no cumprimento de um dever. Este cumprimento do dever não implica somente o cumprimento de dever para outrem, numa lógica de “patrão – empregado”, mas também numa perspectiva pessoal, como por exemplo, num trabalho académico, onde se pede responsabilidade e empenhamento, mas a remuneração não se aplica, tendo uma amplitude mais futura.

Este conceito está intimamente ligado ao conceito de formação, formação que pode ocorrer no trabalho, quando somos empregados e temos formação no local de trabalho e para o trabalho, quando temos uma formação prévia. Mas aqui se coloca a questão da qualificação e da competência. Assim, podemos ter o parecer de qualificação como meio de maior inserção no mercado de trabalho, como fonte de mais oportunidades, visto que a qualificação é uma certificação e validação das competências, ou seja, conhecimentos e capacidades, no sentido de se conseguir realizarem trabalhos. A qualificação e a competência não se separam, sendo a qualificação formalizada através da competência, ela parte da competência que as pessoas têm para mobilizar os saberes. Podemos desenvolver um trabalho sem termos qualificações (normalmente um documento escrito, um diploma) se tivermos competência. Esta qualificação pode ser adquirida numa formação para o trabalho ou numa formação no trabalho. A formação no trabalho é mais valorizada porque além de permitir lidar com situações mais do contexto e da situação do trabalho, possibilita o aperfeiçoamento do trabalho prático, visto se focar aquilo que se trabalha mais especificamente. Estar pronto para qualquer tipo de trabalho é deveras importante porque possibilita ingressar numa actividade, estando aptos para lidar contra a dificuldade de empregabilidade que atravessamos actualmente.

A formação para o trabalho, tem a percepção de uma articulação entre a formação no trabalho e a formação académica, mesmo sendo esta formação no trabalho uma formação secundária, somente de apoio à formação académica. Esta formação para o trabalho fornece os conceitos teóricos e também práticos para a execução de um determinado trabalho.

Por fim, o conceito de justiça social atravessa não só o conceito de trabalho, como também de formação. Cada vez se põe mais em questão a contenda da igualdade de oportunidades e da justiça. A justiça social implícita na Unidade Curricular de Sistemas de Formação, Trabalho e Justiça Social tem como propósito a justiça igualitária do trabalho e da formação, ou seja, oportunidade de trabalho para todos, atendendo às especificidades de cada um, assim como a formação.

Para finalizar esta reflexão vou tecer alguns comentários, breves, sobre o desenrolar da Unidade Curricular com o intuito de a apresentar para o ano que se avizinha. Esta Unidade Curricular tem como objectivo aclarar o desenvolvimento das relações entre os contextos de formação e de trabalho e a mudança a que foram sujeitos, com uma preocupação empenhada com a temática da justiça social, atendendo a vários conceitos explicitados de uma forma bastante acessível, que leva à compreensão total dos conceitos já referidos.

Reflexão individual da Joanna Jankos

Nesta reflexão individual, para além de falar do meu próprio desenvolvimento durante todo o semestre na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade do Porto e, especialmente, durante a participação nas aulas de Sistemas de Formação, Trabalho e Justiça Social, gostaria também de poder falar de toda a experiência que tive durante os cinco meses aqui no Porto. Para os meus companheiros do grupo e também para o resto de companheiros da turma as experiências conectadas com a disciplina podem ser mais especializadas, mas para mim no último meio ano foi tudo uma grande experiência que gostava de partilhar nesta reflexão individual.

A participação no programa Erasmus oferece uma grande variedade de novas experiências. A possibilidade de estudar durante um semestre fora do meu país de origem foi muito enriquecedora para mim. A minha formação profissional na área académica tornou-se cheia de novas reflexões, idéias e opiniões. A oportunidade de morar cinco meses em Portugal abriou-me novas perspectivas e mudou a minha personalidade em vários aspectos.

Na minha reflexão, primeiro de tudo posso dizer que na questão de formação vejo-me mais desenvolvida do que ao principio do semestre. Em geral, a oportunidade de estar no Porto serviou-me para aprender uma nova língua que é o Português e assim melhorar a minha comunicação com a sociedade. O conhecimento de um novo idioma cria novas possibilidades de formação tanto agora, em Portugal durante o meu ensino, como no meu futuro, enriquecendo os meus conhecimentos.

A formação no âmbito académico e a participação nas aulas da FPCE – UP foi uma nova experiência para mim, já que o sistema educativo é muito diferente do sistema que estou a realizar na Polónia. A primeira diferença que posso observar é a “avaliação continua” que está em vigor em Portugal, e que na Polónia ainda não funciona. No meu país os estudantes estão a ter dois tipos de aulas: teóricas e prácticas, e depois, na época de exames, todas as disciplinas terminam com a prova final (em Portugal há mais projectos, portfólios, trabalhos em grupo, etc.).

Em particular, a assistência nas aulas de SFTJS mudou a minha visão do conceito da formação. Durante o semestre estivemos a falar desta questão, nomeadamanete nas actividades das aulas (sobre tudo a actividade das entrevistas). A escuta das opiniões dos companheiros da turma, as definições novas e pontos de vista que o professor e os amigos desenvolveram em certo modo mudaram este conceito. A formação enriquece e muda a personalidade de cada um de nós durante o seu processo que é continuo e dura toda a nossa vida. A formação é aquilo que aprofunda a nossa experiência ao longo da vida.

Em quanto ao conceito do trabalho, posso dizer que este campo na minha experiência pessoal também evoluiu e enriqueceu-se muito. Desde que estou aqui no Porto, comecei um estágio, através da Universidade do Porto, no infantário OSMOPE, na Rua Costa Cabral. Estou a aprender como trabalhar com as crianças ente os 0 e os 5 anos. O estágio com os pequeninos permite-me ter mais práctica, dá-me idéias e exemplos das maneiras de trabalhar com eles. Aprendo muito com as conversas com as educadoras e com a directora do jardim de infância que me explicam o modo do funcionamento desta instituição e também as técnicas necessárias para trabalhar com as crianças. Sinto-me muito bem naquele lugar e adoro ir lá e aprofundar ainda mais a minha experiência.

Numa outra perspectiva, a questão do trabalho, referindo-me agora à minha experiência no Porto, também tem que ver com o tempo dos estudos na UP e especialmente na disciplina de SFTJS. O período das aulas foi um tempo enriquecedor para o meu desenvolvimento pessoal no campo do trabalho académico. Aprendi como funciona o sistema da “avaliação continua” e a preparação dos projectos finais, dos trabalhos em grupo, da partilha da minha opinião no fórum, de elaborar portfólios e reflexões individuais. Tudo isto, entendido no campo do trabalho, ajudou-me desenvolver a minha experiência pessoal.

Por o ultimo, o conceito da justiça social que na minha consciência tornou-se mais profundo ao longo das sessões de SFTJS. Nas últimas aulas falamos da justiça, aquelas conversações lembraram-me a problemática da II Guerra Mundial e os acontecimentos dos Campos de Concentração na Polónia. Depois da nossa aula reflecti muito sobre este tema. Muita gente perguntava pela justiça naqueles momentos e até o dia de hoje, muitas pessoas perguntam onde está a justiça. Depois de três meses a ter aulas de SFTJS o conceito da justiça, na minha opinião, tornou-se mais claro e mais evidente.

As três questões: formação, trabalho e justiça social, estão relacionadas entre si, e só vai ser possível falar delas  de uma forma completa quando se falar das três em conjunto.

Reflexão individual da Sandra Santos

A Unidade Curricular de Sistemas de Formação, Trabalho e Justiça Social tem como instrumento de avaliação a construção de um portfólio. Assim importa fazer uma breve referência ao conceito de portfólio. Este é um instrumento que permite «aos alunos participar na organização e na avaliação das suas aprendizagens e dos seus percursos de formação» (LEITE, C. e FERNANDES, P., 2002:61), permitem também que haja uma auto-reflexão no que toca às aprendizagens realizadas, ou seja, no presente trabalho ele permite que façamos uma auto-reflexão sobre as actividades realizadas durante o semestre. Após terminado ele torna-se uma peça única e é quase um flashback de tudo o que foi realizado durante o semestre, logo contribui para uma melhor aprendizagem e, consequentemente, para uma melhor e mais rica formação.

Importa salientar que o facto de os portfólios serem em grupo torna-os muito mais enriquecedores, quer do ponto de vista académico, profissional ou pessoal, uma vez que nos permite não só partilhar as nossas ideias como também ouvir as ideias dos outros. Permite também a existência de um trabalho de parceria e, como futura licenciada em Ciências da Educação, considero muito importante a existência deste tipo de trabalhos em grupo e/ou equipa, porque num futuro profissional como mediadora sócio-educativa e da formação o objectivo será intervir “com” e não intervir “em”.

A reflexão que se segue tem por base a primeira reflexão individual. Assim, em primeiro lugar tentarei reflectir sobre as experiências relatadas na primeira actividade individual (em anexo na primeira actividade) mas desenvolvendo-as com os conceitos teóricos abordados ao longo do semestre. Em segundo lugar, falarei da importância da Unidade Curricular para a minha formação e da pertinência da avaliação adoptada. Em ambos os momentos considero fundamental assumir uma postura crítica e atenta sempre baseada nos conceitos teóricos e na bibliografia de apoio à UC.

Inicialmente, defini formação como algo subjacente a toda a nossa vida pelo facto de estarmos sempre em formação quer a nível académico que a nível profissional ou até mesmo a nível informal. O que agora me advém dizer é que após este semestre não alterei o conceito que tinha acerca da formação mas sim aprofundei-o.

Em primeiro lugar, considero importante salientar que o conceito de formação verificou uma evolução no decorrer dos anos. Na idade média o ensino estava presente ou na actividade artesanal ou na actividade comercial. No século VI surgiram as escolas de caridade; no século XIII os colégios e, por último, no século XVI apareceram as escolas da paróquia.

A responsabilidade pelo ensino era atribuída à igreja ou a mestres responsáveis por ensinar determinados ofícios, sendo esta aprendizagem de um ofício obrigatória.

A formação pode ser a vários níveis: de natureza profissional; de natureza escolar e de natureza prática que surge como complemento da instrução escolar.

A formação de natureza profissional (na empresa ou nos estágios de curta duração em centros de formação) «afirma-se como a instância intermédia que permite formar competências adequadas ao processo de modernização do produto» (Alaluf e Stroobants, s/d:47). A formação profissional «é longa (…) [e] não depende exclusivamente da complexidade tecnológica dos contextos onde se exerce a actividade produtiva» Correia (1996:17).

A formação de natureza escolar é toda a formação que temos desde o ensino primário ao ensino secundário.

A formação de natureza prática que surge como complemento da instrução escolar é vista como resposta à crise verificada no ensino. Segundo Alaluf e Stroobants, s/d: 46-47) «tanto as medidas defendidas no âmbito das políticas de emprego, como as que visam reformar a escola, deixam larga margem de actuação ao ensino de alternância».

Também podemos subdividir a formação em formação inicial; formação para aprendizagem e formação profissional, embora alguns destes aspectos coincidam com o que já referi anteriormente. A primeira compreende o ensino escolar e o ensino universitário, no fundo é o nível de formação que determina a profissão que vamos exercer, ou seja, uma formação para o trabalho. A segunda é um caso particular da formação inicial e consiste na alternância entre a teoria e a prática. A terceira está associada à formação no trabalho e, portanto, ela é adoptada para pessoas que já exercem uma profissão mas que querem melhorar as suas capacidades, ou seja, é um tipo de formação que está mais direccionado para a aquisição de competências no campo profissional. 

Até aqui falei de formação a nível formal, mas também considero que há formação a nível informal pois muitas vezes em simples conversas ou actividades informais também aprendemos.

Em suma, a formação está presente em todos os momentos da nossa vida, quer quando somos estudantes, trabalhadores e, principalmente quando somos simplesmente pessoas.

Relativamente ao conceito de trabalho que na reflexão inicial defini como um conceito alargado que abrange diversas coisas, nomeadamente a prestação de serviços (emprego), os trabalhos académicos, entre outros aspectos. Tal como o conceito de formação, este após terminar este semestre, mais especificamente a Unidade Curricular, não mudei muito a opinião que tinha em relação ao trabalho, mas sim aprofundei esse conceito.

«No século XVII assiste-se, com efeito, a uma profunda transformação do trabalho e do seu papel social. Considerado até então como um esforço penoso a evitar, o trabalho passa a ser considerado como uma actividade exaltante que interessava promover e racionalizar» (Correia, 1996:23).

Segundo José Alberto Correia (1996:25) há uma articulação entre a forma de organização do trabalho pedagógico com a concepção moderna de trabalho. Esta articulação resulta antes do desenvolvimento de mecanismos de controlo social.

No que concerne ao trabalho como actividade profissional, este é associado a uma remuneração através de um salário, ou seja, há uma troca do trabalho prestado por uma dada quantia monetária. Assim, Correia (1996:34) fala-nos de uma relação salarial, esta é entendida como «o conjunto de condições jurídicas e institucionais que regem o uso do trabalho assalariado bem como a reprodução da existência dos trabalhadores» (Boyer, 1986:18 cit. in Correia, 1996:34).  

Não é possível dissociar o conceito de formação e o conceito de trabalho, ou seja, de certa forma estes conceitos estão relacionados. A formação seja académica ou profissional tem, na minha opinião, o objectivo de preparar um indivíduo para a inserção no mercado de trabalho. Contudo e, segundo AAVV (2006), ainda se verifica uma distância entre o sistema educativo e o mercado de trabalho, pois o sistema de ensino continua a dar privilégio à preparação dos indivíduos para o ingresso no ensino superior. No entanto, «a aposta nos sistemas de ensino tecnológico e profissional veio amenizar esta distância todavia estas ofertas: a) continuam a abranger apenas uma minoria de jovens; b) muitas delas não se deslocam também das lógicas eruditas e tradicionais» (AAVV, 2006:2).

Desta forma, é extremamente pertinente falar de competências e qualificações. Segundo AAVV (2006) a juventude portuguesa contemporânea é caracterizada por uma desigualdade tanto ao nível de qualificações escolares ou profissionais e também por uma carência de competências para se adaptar aos novos contextos sociais e tecnológicos. Assim, o conceito de competência é um conceito relacionado com o desempenho de uma pessoa na realização de uma tarefa e também com um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que a pessoa tem que justificam o seu bom desempenho. A qualificação consiste na preparação do indivíduo para um futuro profissional. «O conceito de qualificação, está intimamente ligado ao domínio de um ofício – quer dizer, à combinação de conhecimentos de materiais e processos com a destreza manual dada pela prática, necessária para levar a cabo um processo específico de trabalho» (Baverman cit. in Correia, 1996:18).

A justiça social que anteriormente defini como sendo um conceito ligado aos direitos de cada cidadão e à igualdade de oportunidades, é também um conceito que difere de pessoa para pessoa. Este conceito foi o que mais dificuldades senti em definir, contudo após esta unidade curricular considero que aprofundei um pouco esse conceito.

Em primeiro lugar vou falar da justiça social ligada à globalização. Assim, segundo Fraser (2003: 2) «a globalização é a politização generalizada da cultura, especialmente nas lutas pela identidade e diferença
ou (…) as lutas pelo reconhecimento que explodiram nos últimos anos». Na minha opinião a justiça social está realmente relacionada com os direitos dos cidadãos quer na luta pela sua identidade como na luta pela diferença, assim parece-me claro a ligação desta com a globalização. Cada vez mais se assiste a uma luta pelos direitos de cada um, ou seja, a uma “reivindicação de reconhecimento” que impulsiona diversos conflitos sociais, quer a nível multicultural quer a nível das relações sociais de género, isto é, há uma luta de todos pelos seus direitos humanos.

De uma forma geral, a globalização está a produzir uma nova gramática de reivindicação política, ou seja, há uma passagem da redistribuição para o reconhecimento, isto porque «por um lado, a viragem para o reconhecimento representa um alargamento da contestação política e um novo entendimento da justiça social. Já não restrita ao eixo da classe, a contestação abarca agora outros eixos de subordinação, incluindo a diferença sexual, a "raça", a etnicidade, a sexualidade, a religião e a nacionalidade. (…) Para além disso, a justiça social já não se cinge só a questões de distribuição, abrangendo agora também questões de representação, identidade e diferença (…). Por outro lado, não é absolutamente nada evidente que as actuais lutas pelo reconhecimento estejam a contribuir para complementar e aprofundar as lutas pela redistribuição igualitária. Antes pelo contrário: no contexto de um neoliberalismo em ascensão, podem estar a contribuir para deslocar as últimas» (Fraser, 2003: 2-3).

Em segundo lugar, vou falar da declaração da OIT sobre Justiça Social para uma globalização justa, mais especificamente da Conferência Internacional do Trabalho reunida em Genebra por ocasião da sua 97ª Sessão. Nesta conferencia foi considerado que «a divulgação das novas tecnologias, circulação de ideias, intercâmbio de bens e serviços, aumento dos fluxos de capitais e financeiros, internacionalização do mundo dos negócios e dos seus processos, bem como pelo aumento do diálogo e circulação de pessoas, em particular, das trabalhadoras e trabalhadores, está a transformar profundamente o mundo do trabalho»[1][1][1]. Por um lado, verificou-se que a cooperação e integração económicas ajudou diversos países a atingir elevadas taxas de crescimento económico e a criar mais empregos, a integrar alguns dos pobres das zonas rurais na economia urbana moderna. Por outro, o que se verificou foi que «a integração económica à escala mundial colocou muitos países e sectores perante importantes desafios como as desigualdades de rendimentos, persistência de elevados níveis de desemprego e pobreza, vulnerabilidade das economias aos choques externos e aumento do trabalho precário e da economia informal»[2][2][2].

Pegando como exemplo uma frase que falei há pouco que diz que as ofertas proporcionadas pelo ensino tecnológico e profissional apenas abrangiam uma minoria de jovens, posso dizer que nesta situação o que se verifica é o oposto à justiça social, na medida em que só uma minoria dos jovens consegue ter acesso a este sistema de ensino. Quando falamos em direitos, deveres e igualdade de oportunidades certamente falamos que todos sem excepção têm direito à educação, a um emprego, etc. Isto para dizer que de certa forma os três conceitos estão relacionados e podem ser lidos em conjunto. A justiça social está relacionada com o trabalho e com a formação e vice-versa.

Nesta unidade curricular, trabalhamos os conceitos de Formação, Trabalho e Justiça Social relacionando-os com diversos aspectos que consideramos interessantes e enriquecedores, como por exemplo com a nossa própria perspectiva ou do grupo, com a perspectiva das pessoas a quem entrevistamos e pedimos que nos falassem da sua experiência. Esta forma de trabalhar os conceitos principais da Unidade Curricular levou a que o trabalho desenvolvido não só se articulasse com os conteúdos teóricos da Unidade Curricular como também com as experiências pessoais e profissionais.

No que respeita ao método de avaliação adoptado o que me advêm dizer é que foi bastante adequado e pertinente pois foi uma forma de nos colocar a reflectir sobre os temas abordados em cada actividade que realizamos e, por isso, foi um óptimo instrumento de avaliação pois permitiram tecer um olhar mais crítico e reflexivo sobre os conteúdos abordados, as actividades realizadas, entre outras coisas. Em suma, os trabalhos realizados no decorrer do semestre (a construção do portfólio e as actividades), apesar de terem sido bastante cansativos e “trabalhosos” foram, em contrapartida, muito gratificantes e óptimas ferramentas para o nosso futuro como mediadores/as sócio-educativos/as e da formação.


[3][3][1] Declaração da OIT Sobre Justiça Social para uma Globalização Justa, Adoptada pela Conferência Internacional do Trabalho na 97ª Sessão, Genebra, 10 de Junho de 2008

[4][4][2] Ibidem


Reflexão individual do Tiago Teixeira

Ao longo das várias sessões da Unidade Curricular de Sistemas de Formação, Trabalho e Justiça Social foi possível verificar que os três conceitos que denominam a UC estão intimamente relacionados e que a sua articulação, não só se torna pertinente como é essencial para pensar estas questões.

A realização de um portefólio veio mesmo coadunar essa relação e articulação dos conceitos base da UC pois permitiu, pela génese dessa ferramenta de trabalho, conduzir e construir um fio de lógica a partir do início das sessões até ao seu final. Principalmente no culminar da realização do portefólio da UC apercebemo-nos ainda mais explicitamente o sentido da utilização desta ferramenta de trabalho. Permitiu por um lado estabelecer um registo essencial à aprendizagem e por outro, constitui um elemento do processo de aprendizagem ao permitir também a reflexão crítica e pertinente dos temas abordados nas sessões e a reformulação e organização dos registos que constam no portefólio.

Não obstante a realização de um portefólio torna-se trabalhosa e por isso é importante organizar tarefas e fasear o trabalho ao longo do semestre, ainda mais verdade como no caso, a realização for feita em grupo.

O trabalho em grupo é outra das vantagens que se nos deparou ao longo do semestre, pois de acordo com os princípios metodológicos de trabalho e aprendizagem e, na teoria que lhes é inerente defendida e sugerida na Licenciatura em Ciências da Educação em particular, nas Ciências da Educação em geral, este tipo de trabalho constitui um enriquecimento do próprio processo de aprendizagem, acordando e debatendo diferentes perspectivas, ideias e pontos de vista. Ao mesmo tempo pode ser considerado também uma forma de exercícios de preparação como profissionais das Ciências da Educação, promovendo o trabalho multidisciplinar, a organização do próprio trabalho, promovendo o diálogo e a comunicação como meios de enriquecimento do trabalho e do próprio produto do trabalho.

O que é referido nesta reflexão é um testemunho e uma constatação pessoal a partir do culminar de um processo do qual temos uma maior noção e consciência dos seus benefícios e pertinência justamente quando o perspectivamos como global compreendendo várias temáticas e domínios particulares.

Posto isto, continuarei por tecer algumas compreensões sobre os três conceitos base da UC, desta feita, após os já ter trabalhado ao longo do semestre.
 
Tendo em conta os três conceitos base que estruturam e denominam a Unidade Curricular é importante perceber as íntimas relações que os conceitos de formação, trabalho e justiça social têm entre si. Mais, não só se articulam como se implicam incessantemente. Nesta linha de pensamento se pretendemos tecer considerações acerca da(s) possível(eis) definição(ões) destes três conceitos facilmente constatamos que a definição de um destes conceitos implica uma adequação aos outros dois

Ao longo dos tempos os conceitos de formação, de trabalho e de justiça social sofreram várias alterações, vários contextos, o que implicou sempre uma noção de mudança. Assim, apercebemo-nos que estes conceitos são atravessados tanto por linhas de transversalidade como por noções de transitoriedade. 

O trabalho pode ser considerado como acto ou acção prática ou simbólica que poderá implicar um produto. Não obstante, associamos ao conceito de trabalho as acções inscritas numa determinada organização social que assenta numa das suas bases a organização do trabalho em prol de um bem-estar comum e no desenvolvimento do Mundo e dos seres humanos. Interessa-nos aqui as vertentes do trabalho que mais influenciam a organização social e a sua regulação e mudança. Na época medieval o trabalho era considerado principalmente como tarefa das pessoas pertencentes a classes sociais mais baixas. Então aí os conceitos de educação e de trabalho aparecem amplamente afastados, cabendo ao primeiro ser uma actividade intelectual e superior, e ao segundo ser uma actividade laboral, prática e produtiva. Sendo assim, no contexto medieval o trabalho era a regra e a educação a excepção, tal como nos refere Correia apoiando-se em André Petitat (1996).

Então, neste panorama a formação (profissional) surge intimamente ligada aos locais de trabalho, estabelecendo a aprendizagem relação directa com o trabalho. Daqui provêm os ofícios em que o aprendente desenvolve e adquire uma série de competências (principalmente manuais) de acordo com um mestre. Vemos então que a formação profissional articula-se em contextos de trabalho. Percebe-se que a pertinência e origem da formação profissional aqui é dependente principalmente das necessidades de produção. As funções e estatutos sociais nesta altura são estabelecidas hierarquicamente fortes.

Com o surgimento da maquinafactura surge também uma nova organização social e inerentemente uma nova forma de controlo social. Assiste-se à supressão dos ofícios fruto da Revolução Industrial. Os sistemas de formação aqui constituem um papel de regulação do trabalho infantil.

De facto, é com o aparecimento dos Estados-Nação que as esferas de trabalho começam a constituir uma importância social acrescida. Nesta altura o trabalho começa a ser considerado exaltante ao invés de ser considerado penoso. O conceito de trabalho é reformulado e adquire novos sentidos e significados. Surge a necessidade de se formar para um sistema de trabalho que se começa a pautar por mecanismos de produção em massa e pela sectorização dos postos de trabalho, tornando-os por um lado mais circunscritos e por outro mais específicos. Torna-se pertinente desenvolver sistemas de formação ligados profundamente aos sistemas de trabalho.

Com o surgimento da escolarização obrigatória o panorama social e do trabalho alterou-se profundamente. A escola surge como um meio de socialização para o trabalho. Mas mais uma vez este facto não se iria estagnar. A transitoriedade que as sociedades vivem levou a que mais tarde as perspectivas de justiça relacionadas com a formação e com o trabalho fossem reformuladas.

Como vimos o trabalho, historicamente, implicou mudanças e adequações nos sistemas de formação. Por seu lado os sistemas de formação implicaram mudanças consideráveis tanto no conceito como na prática do trabalho.

A formação pode ser para o trabalho como pode ser também no trabalho. Hoje em dia, e num contexto em que as taxas de desemprego aumentam, e nem as pessoas com maior formação “escapam” tem estado na ordem da agenda a reflexão sobre a pertinência destes diferentes sistemas de formação. O facto é que cada vez menos assistimos a existência de profissões nas quais uma pessoa possa esperar desenvolver aí uma carreira até ao fim da sua vida de trabalho. Vivemos pois tempos de constantes mudanças. A mudança hoje, mais do que nunca, é feita num tempo vertiginoso e, tornam-se cada vez mais fundamentais nas sociedades ter competências de adaptabilidade e de gestão da mudança e do imprevisto. Isto faz com que se tenha que repensar os sistemas de formação que vigoram no sentido de se praticar um tipo de formação que se coadune com o que se passa no presente e com o que se prevê para o futuro. O domínio dos saberes técnicos por si só já não chegam. Ao mesmo tempo que isto se sucede a própria valorização social do trabalho vai-se alterando, assistindo-se a uma crescente valorização do trabalho simbólico em detrimento daquele que é considerado o trabalho mais manual.

Posto isto, qual a relação que a justiça social tem ou não com os conceitos de trabalho e formação?

Quando tratamos o conceito de justiça percebemos que, tal como o conceito de educação, qualquer pessoa leiga tem opiniões, princípios, fundamentos e processos próprios, mas, de uma forma geral existe uma ideia que é transversal. Pois, a procura de justiça pauta-se então pela procura da maior adequação, nomeadamente do corpo legal, à sociedade.

Então, constatamos que dificilmente se pode falar em justiça social sem reflectir e associar as questões do trabalho. Torna-se então pertinente descortinar algumas das características pelas quais ele se pauta. O trabalho surge num conjunto de relações e tensões entre a força de trabalho e o capital. Para fazer face a estas questões existem forças sindicais. O sindicalismo, associado às profissões e, através de corporações trata das questões que têm que ver com as ditas relações e tensões do capital com a força de trabalho. Historicamente o trabalho já assumiu várias assunções. Num tempo mais longínquo foram figuras representativas da força de trabalho os escravos, os servos e os assalariados. Esta última figura é a que vigora no que diz respeito às figuras representativas da força trabalhadora.

À medida que a organização do trabalho se desenvolve, bem como a organização social e, também derivado a ideologias contemporâneas e a partir das que regeram a Revolução Francesa, as profissões aparecem como ferramenta e plataforma de base para a organização das sociedades, tendo em vista que essa organização se paute por valores de convivialidade. Posto isto, as profissões assumem a sua afirmação no panorama social e também, advém daqui e fruto das crescentes e inerentes tensões criadas na relação da força de trabalho com o capital, a organização sindical, já referida acima, que formam contestações organizadas. Os sindicatos foram, a partir principalmente da revolução industrial massivamente preponderantes onde estavam representadas várias classes trabalhadoras, que faziam da sua coesão a sua força de garantir determinados direitos.

Nos dias de hoje, nomeadamente em Portugal, embora ainda consideravelmente importantes, os sindicatos parecem ver desvanecidas as suas forças e influência. Várias razões são indicadas provindas de outras várias posições e figuras. Por um lado é visto no processo de globalização, nomeadamente e principalmente a globalização económica e dos seus modelos, um estabelecer de assimetrias de poder e nas consequências perversas que daí podem resultar em desfavor da força de trabalho. Por outro lado é considerado também que na organização social e do trabalho que hoje vivemos, na dita sociedade de informação que se pauta por constantes transformações e mudanças, reside uma crescente perspectiva que existem agora mais do que nunca posições particulares, pessoais e subjectivas que não são representadas nas forças sindicais, nem será o método mais indicado de garantir e defender este tipo de posições.

Deparamo-nos então com alguns problemas que subjazem as múltiplas partições que cada indivíduo vive e tem que se deparar na sociedade embebida pela massiva globalização que, de um modo ou de outro vigora. Tem o problema da substituição que é relativa às questões da identidade pessoal e da identidade produtiva. Outro problema é o problema da reificação que diz respeito ao modelo de estatuto social e como se organiza a convivência das diferenças. Um outro problema também se depara, o problema do enquadramento desajustado que faz face a questões relativas à soberania de múltiplos níveis.

Percebemos então que os três conceitos, trabalho, formação e justiça social, encontram-se amplamente relacionados, implicados e articulados entre si.